привет, дорогой Иван! Saudações, caro Ivan (e aos seus recém-chegados camaradas ianques)! Acabo de vê-los passar acima da Terra, jovem cosmonauta, numa estrela brilhante e veloz apressada por entre os helicópteros noturnos que sobrevoam esta metrópole.
Foto & palavra, escritas & fantasmas (bibliografia)
Literatura contaminada pela imagem & vice-versa.
Foto & palavra, escritas & fantasmas
Oficina de criação de textos a partir de imagens e vice-versa.
A literatura contemporânea, como as outras artes da nossa época, se situa em uma zona de fronteira, uma superfície porosa na qual a palavra escrita se mescla, se contamina, se metamorfoseia no contato com outras linguagens – entre elas, a fotografia.
Mas como se dá esse contato? Como autoras e autores tem explorado essa fronteira? Por fim, como explorar esse território?
Algumas tentativas de alcançá-lo (o poema)
Comentário sobre “Uma tentativa de retratá-la”, de Carlito Azevedo.
A objetividade de “Uma tentativa de retratá-la”, poema de Carlito Azevedo, termina logo no título, em um anúncio quase redundante da impossibilidade do poema, já que retratar alguém é em si mesmo uma tentativa (obviamente frustrada) de alcançar o inalcançável, de apreender um instante que nos escapa a cada investida que fazemos.
Há um ensaio em que Ricardo Piglia ousa inventar uma possível sexta proposta para o projeto inconcluso de Italo Calvino, que morreu em 1985 deixando escritas apenas cinco das Seis propostas para o próximo milênio , série de palestras que daria em Harvard e nas quais identifica seis qualidades que, segundo ele, apenas a literatura pode salvar: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade, consistência.
Em fevereiro de 2003, comecei um blog, o Na Rua, que mantive atualizado até 2009. Muitos começos se encontravam naquele blog: o jornalismo, a fotografia, alguma militância. Gestos que esboçavam alguma autoria. Mas o começo não está necessariamente na origem. Um começo não passa de um ponto arbitrário na espiral de um vórtex, para usar a palavra de Walter Benjamin .
Dia 28 de maio de 2017. Uma névoa gelada encobria Copacabana. No palco, Milton Nascimento juntava-se a Caetano Veloso para cantar Paula e Bebeto, o manifesto de amor composto em 1975 (“Qualquer maneira de amor vale a pena”, diz a canção). Era para ser um momento bonito, quase sublime, não fosse o cheiro de velha roupa colorida que pairava no ar. “Diga qual a palavra que nunca foi dita”, eles cantavam, enquanto no rés do chão o que se dizia eram palavras recicladas — justas porém gastas, uma sombra melancólica da utopia carregada por aquela geração.
Uma professora dizia ter sempre um Borges pronto para lhe emprestar uma metáfora. Então vou começar o meu percurso por Irineu Funes, o homem que não se esquecia de nada. Funes é personagem do segundo conto da segunda parte do livro Ficções . Tinha hipermnésia, e, como diz o narrador, a menos importante das suas lembranças era mais minuciosa e mais viva do que toda a nossa percepção de um tormento físico, por exemplo. Por isso, tinha problemas para dormir (dormir é distrair-se do mundo, dizia). A insônia me aproxima de Funes, e penso nele sempre que me deito no fim do dia e o corpo não se entrega.
Ao que me consta, W. G. Sebald nunca esteve no Brasil. Alguns dos personagens citados nos seus livros, no entanto, cruzaram o Atlântico e desembarcaram no novo mundo. Certa tarde, ao caminhar a esmo pela cidade de Haia, na Holanda, o narrador-protagonista de Os Anéis de Saturno (um duplo do próprio autor, como são todos os seus narradores ) senta-se para descansar nas escadas do palácio construído pelo governador Johann Maurits (Maurício de Nassau); segundo o guia turístico que havia comprado, o palácio pretendia-se uma residência “cosmográfica”, de forma a refletir as maravilhas encontradas nas regiões mais remotas da Terra.
Notas de um percurso pela barbárie
Reflexões para o desenvolvimento de uma poética sobre o linchamento.
Ensaio crítico que acompanha o trabalho Postais para Charles Lynch, do Coletivo Garapa, realizado entre 2014 e 2015 com recursos da Bolsa ZUM / IMS de Fotografia, do Instituto Moreira Salles.